Em nossa Newsletter abordamos este importante tema e, para promover um debate profundo e reflexivo, convidamos Germano Neto, Diretor Geral do Colégio Magnum Agostiniano (integrante da Inspira Rede de Educadores) – Belo Horizonte, para responder algumas perguntas. Confira a entrevista completa:
1- Como você vê o papel da Inteligência Artificial na personalização do processo de aprendizagem e quais são as implicações para os métodos tradicionais de ensino?
Germano: “O potencial da IA para a personalização do processo educacional não tem precedentes. Mas a verdade é que o poder da IA é tal que me sinto desconcertado ao sugerir caminhos. Quanto deste poder eu mesmo compreendo? A utilização da IA, quando bem alinhada com premissas fundamentais como o pensamento crítico, saber fazer boas perguntas e fazer uso crítico da tecnologia, pode aprimorar consideravelmente a experiência educacional. A educação deve visar o desenvolvimento do pensamento crítico. Ao interagir com a IA, o aluno já deve ter um desenvolvimento socioemocional que lhe permita ser crítico. A IA, por sua vez, pode personalizar o aprendizado ao identificar os pontos fortes e fracos de cada
aluno, adaptando-se às suas necessidades específicas e promovendo desafios que estimulem seu pensamento crítico. A capacidade de fazer boas perguntas é essencial para o pensamento crítico. A IA pode auxiliar nisso ao fornecer feedback instantâneo, permitindo que os alunos explorem diferentes cenários e resultados de suas indagações. Isso os encorajaria a formular perguntas cada vez mais complexas e relevantes, A IA, ao oferecer conteúdo personalizado e adaptativo, pode expandir o conhecimento de mundo dos alunos, apresentando-os a uma gama diversificada de temas, perspectivas e problemas. Isso prepara o terreno para que façam perguntas bem fundamentadas e relevância social, econômica e cultural.
Acredito que seja crucial manter um equilíbrio saudável entre atividades digitais e não digitais. A personalização oferecida pela IA não deve substituir, mas sim complementar as experiências de aprendizagem não digitais, as quais são fundamentais para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo dos alunos. Este equilíbrio assegura que o uso da tecnologia na educação seja crítico e intencional, promovendo uma reflexão aprofundada e o desenvolvimento de habilidades vitais para a vida. A adoção da IA na personalização do ensino implica uma revisão dos métodos tradicionais de ensino. Os educadores são chamados a assumir novos papéis, como facilitadores do aprendizado e orientadores no uso crítico da tecnologia. Isso requer uma atualização
constante em práticas pedagógicas e tecnológicas, bem como uma reflexão sobre como integrar crítica e efetivamente a IA no currículo. Em suma, a IA tem o potencial de transformar profundamente o processo de aprendizagem, tornando-o mais personalizado, interativo e adaptado às necessidades individuais dos alunos. No entanto, sua implementação bem-sucedida depende de uma abordagem equilibrada que valorize tanto as interações humanas quanto a tecnologia, sempre com foco no desenvolvimento do pensamento crítico e na capacidade de fazer boas perguntas.”
2- Pode nos dar exemplos de como ferramentas e plataformas digitais têm transformado a interatividade e o engajamento dos alunos no ambiente de aprendizado moderno?
Germano: “As ferramentas e plataformas digitais nos dão recursos inovadores que transformam a maneira como o conhecimento é adquirido e compartilhado. Por exemplo, a Khan Academy, uma plataforma que permite explorar toda sorte de tópicos e mesmo agrupar alguns que, infelizmente, costumam não fazer parte do currículo da maioria das escolas, como programação de computadores e educação financeira, ampliando conhecimentos e desenvolvendo habilidades acadêmicas.
Algumas ferramentas, como a lousas virtuais, oferecem recursos que ajudam os alunos a organizar informações, visualizar dados e colaborar com colegas em tempo real e de qualquer lugar, facilitando o aprendizado colaborativo e projetos em grupo. Plataforma de aprendizado online que utilizam flashcards digitais, provas simuladas e questionários para tornar o estudo mais eficaz e envolvente; Ferramentas para construir mapas mentais e conceituais que ajudam na criação de conexões de aprendizado, permitindo aos alunos expandir o conhecimento de forma visual e interativa. Ferramentas que ajudam os alunos a escrever melhor, questionando e corrigindo erros gramaticais e ortográficos. Plataformas gamificadas que utilizam questionários interativos para envolver os alunos de forma lúdica, incentivando o aprendizado através da competição saudável e feedback
imediato. São ao mesmo tempo simples de usar e tem demonstrado ser altamente eficazes em manter o engajamento dos alunos e melhorar a compreensão do conteúdo. Ambientes de aprendizagem, como os LMS, que permitem criar, entregar e ajudar a avaliar conteúdos de cursos e a gerenciar o uso dos mais diversos materiais, ferramentas e soluções educacionais em um só ambiente.”
3- De que forma a realidade virtual está sendo integrada nos currículos educacionais para criar experiências de aprendizagem imersivas, e quais são os principais desafios para sua implementação eficaz?
Germano: “A principal forma tem sido a exploração de ambientes virtuais, como simulações de problemas e experimentos científicos, exploração de lugares, monumentos e objetos históricos ou visitas virtuais a lugares geográficos, formas de relevo e ecossistemas. Os desafios são o custo dos equipamentos e programas de usuários, treinamento de professores, os currículos e conteúdos ainda concebidos para a era da transmissão de informações e não para a era da interconectividade e interatividade, e o custo da criação de novos ambientes virtuais, que deve ser profissional e sofisticada, para garantir uma imersão de melhor qualidade.”
4- Em sua opinião, qual é o impacto da combinação de Inteligência Artificial e realidade virtual no desenvolvimento de habilidades críticas e criativas nos alunos?
Germano: “Trata-se de uma combinação de potencial tão grande, quase inimaginável para um educador que ainda vivencia o currículo e a escola tradicional. Mas podemos dizer que adicionar a IA às simulações RV pode introduzir elementos dinâmicos e adaptativos, desafiando os alunos a aplicar o pensamento crítico e a resolução de problemas em contextos que mudam em tempo real, estimulando a adaptação e a criatividade. Por exemplo, o aluno pode variar números ou incógnitas de uma equação e ver um objeto ou um gráfico ou um volume variar instantaneamente ao seu olhar. E pode ser desafiado pela IA por meio de perguntas que lhe permitam pensar criticamente a relação entre números, incógnitas e igualdades dessa equação. Uma situação como essa pode-se aplicar à matemática, à física, à química, à biologia ou mesmo à geografia.”
5- Poderia compartilhar insights sobre como as plataformas digitais estão sendo utilizadas para complementar o ensino presencial, particularmente em cenários onde a Inteligência Artificial ajuda a identificar lacunas de aprendizagem?
Germano: “Esse é um assunto muito vasto. Eu gostaria de propor a reflexão em um tweet: plataformas digitais usam IA para analisar dados de aprendizagem, personalizando conteúdo e identificando lacunas, melhorando assim a eficácia do ensino presencial.”
6- Compartilhe conosco alguma ação inovadora ou implementação tecnológica que sua escola tenha desenvolvido e quais resultados têm trazido para o ambiente escolar.
Germano: “Nossa escola tem um processo autoral de avaliação, que denominamos “Macroprocesso de Avaliação” e ele agora está sendo potencializado enormemente pela coleta maciça de dados. Resumidamente, nosso processo é assim: a partir da matriz curricular, temos uma matriz de avaliação, que é concretizada no planejamento dos trimestres de cada ano. A partir desse planejamento, mapas de provas, atividades e projetos são desenhados e normatizam a operação dessas atividades. As aulas e atividades concretas, de cada professor, para cada período do ano, são então planejadas com base nesta norma. Executadas as aulas, as provas e avaliações concretas são elaboradas e os seus resultados analisados em termos de notas e de habilidades alcançadas.
A partir destes resultados, as defasagens (gaps) são analisados e retomados no período seguinte.
Agora temos um LMS derivado e integrado ao nosso novo material didático. Esse LMS permite coletar muitos dados das atividades dos alunos. A inteligência de dados coletados durante o percurso dos alunos no ambiente virtual de ensino está enriquecendo significativamente o "Macroprocesso de Avaliação" já estabelecido pela escola. Ao integrar dados detalhados de interações dos alunos com o material didático online, como tempo de estudo, padrões de respostas a quizzes e atividades, é possível obter uma compreensão
mais profunda e precisa da aprendizagem e das defasagens.
Esses dados, analisados através de algoritmos, agora permitem uma identificação mais rápida e precisa das lacunas específicas de cada aluno. Isso significa que a matriz de avaliação pode ser ajustada em tempo real, personalizando o planejamento das atividades para atender determinados perfis de alunos. Assim, o processo de retomada das defasagens ou mesmo a proposta de novos desafios de aprendizagem, no período seguinte, pode ser direcionado de maneira mais eficiente. Além disso, a análise contínua dos dados coletados no ambiente virtual de ensino permite um acompanhamento progressivo do desenvolvimento de habilidades dos alunos, ajustando o planejamento pedagógico de maneira proativa, em vez de reativa. Isso contribui para uma abordagem de ensino mais adaptativa e muito mais personalizada do que permite a famigerada “nota da prova”, potencializando o sucesso do "Macroprocesso de Avaliação" e, por consequência, o aprendizado dos alunos de forma mais abrangente e eficaz.”
Germano Neto – Diretor Geral do Colégio Magnum Agostiniano (integrante da Inspira Rede de Educadores)